Comitê internacional propõe abolir o termo planeta .
Em meio a acaloradas discussões, o grupo de astrônomos encarregado pela IAU (União Astronômica Internacional) de decidir quem é quem no Universo está chegando a uma incômoda conclusão: não existe uma definição satisfatória do que seja um planeta. Para solucionar a crise, eles propõem uma ação radical. Ninguém mais deve usar a palavra planeta, a não ser que venha acompanhada de qualificativo.
O comitê, inicialmente encarregado apenas de criar uma definição satisfatória do que é um planeta, foi apressado pela descoberta recente de um astro na borda do Sistema Solar. Designado apenas por seu nome técnico (2003 UB313), o objeto é maior que Plutão, o que em tese o qualificaria para o posto de décimo planeta.
Se a proposta for adotada pela IAU, ninguém mais poderá falar de um Sistema Solar com nove (ou dez) planetas, mas de um que tem quatro planetas terrestres, quatro planetas gigantes gasosos, um punhado de planetas transnetunianos e, pela mesma lógica, alguns planetas cisjovianos. Não há dúvida de que a primeira aula do curso de geografia vai ficar imensamente mais complicada.
Os astrônomos vêem a confusão atual como uma oportunidade dupla. Primeiro, para resolver uma pendenga que se arrasta há várias décadas, essa indefinição do que seja um planeta. Em segundo lugar, pode ter um valor educativo, eliminando a falsa crença de que o Sistema Solar é um lugar arrumado e cheio de objetos de fácil classificação.
Talvez isso não seja satisfatório para o público, mas tem um valor educacional. Podemos fazer uso dessa descoberta do 2003 UB313 para resolver a questão, diz Brian Marsden, britânico que trabalha no Centro para Astrofísica da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e faz parte do comitê da IAU que discute a questão.
O ponto principal é se podemos ou não definir o termo planeta, diz Marsden. A maioria dos cientistas, dentro ou fora do comitê da IAU, acha que não.
Com nossa ignorância do passado, uma palavra era suficiente. Agora nós temos objetos como Plutão em torno do Sol e descobrimos gigantescos objetos como Júpiter orbitando ao redor de outras estrelas. Pela primeira vez na história humana, precisamos de um conjunto de descrições mais ricas para todos esses astros celestes, diz Geoffrey Marcy, astrônomo da Universidade da Califórnia em Berkeley e líder na busca por planetas fora do Sistema Solar.
Ele não mostra sinais de trauma com as mudanças. A palavra gato não captura a diversidade entre todos os felinos. De repente, a palavra planeta fracassa em capturar a diversidade dos objetos que orbitam ao redor de estrelas.
Classes
A idéia seria definir os vários tipos possíveis de objetos planetários. No caso do Sistema Solar, já se pode ver três categorias. Planetas terrestres seriam os que têm solo rochoso: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Os grandalhões do Sistema Solar, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, seriam os planetas gigantes gasosos. E os mundos que fossem esféricos e estivessem além da órbita de Netuno seriam os planetas transnetunianos.
A esse grupo pertenceriam não só Plutão e o 2003 UB313 mas também outros astros de porte similar descobertos em anos recentes, como o Quaoar e o Sedna. Ou seja, já haveria hoje um punhado de planetas transnetunianos conhecidos no Sistema Solar.
E talvez haja ainda uma outra categoria, que chamo de planetas cisjovianos, porque eles estão perto de Júpiter, diz Marsden. Ela responderia pelos asteróides esféricos e grandes que estão entre Marte e Júpiter, como Ceres.
A proposta inicial, ainda em discussão, foi obtida e divulgada hoje pela revista científica britânica Nature. E, embora ela represente a opinião da maioria dos cientistas no comitê da IAU, ainda pode haver uma reviravolta.
Parecia que estávamos chegando a um consenso até o início da semana, mas então surgiu uma minoria que não concorda e que ainda acha que podemos conseguir definir o que é um planeta, diz Marsden. A última cartada dos que querem salvar o velho termo deve vir amanhã. Eles prometeram apresentar sua definição até sexta-feira. Então teremos novas discussões.