Brasil pode entrar em circuito mundial de furacões, diz pesquisa.
CLAUDIO ANGELOO Brasil pode entrar no circuito mundial dos furacões, também devido ao aquecimento global. A sugestão é de uma dupla de pesquisadores da Universidade de Melbourne, na Austrália, que analisou o fenômeno Catarina, primeiro ciclone tropical registrado no país, em 2004.
O climatologista brasileiro Alexandre Pezza e seu colega australiano Ian Simmonds publicaram na edição do mês passado da revista "Geophysical Research Letters" (www.agu.org/journals/gl) um estudo detalhando como o Catarina se transformou de ciclone extratropical --tipo de tempestade comum no Brasil-- em um ciclone tropical ou furacão.
O estudo afirma que a conversão do Catarina numa tempestade "malvada" não ocorreu devido a temperaturas especialmente altas no mar de São Paulo, onde o fenômeno se originou antes de migrar para Santa Catarina.
Segundo os pesquisadores, o que ocorreu foi uma combinação atípica de ventos fracos nas camadas mais altas da atmosfera e do chamado bloqueio atmosférico, que atrapalha a circulação normal dos ventos e, no caso de Santa Catarina, impediu a frente fria que, em situações normais, deteria a transição para ciclone tropical.
Pezza diz que a dupla não encontrou nenhuma relação direta do Catarina com o aquecimento global. No entanto, afirma que o efeito estufa pode alterar o padrão geral da circulação atmosférica no Hemisfério Sul, com o potencial de produzir no futuro condições similares às responsáveis pelo Catarina. "O aquecimento global está relacionado a propriedades mais complexas do que simplesmente um aumento da temperatura do ar ou da água", disse o pesquisador.
Em bom português, não seria preciso um aumento efetivo na temperatura da água ou um aumento na área de formação de furacões --limitada aos mares equatoriais e tropicais-- para que mais Catarinas acontecessem.
O climatologista José Marengo, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) concorda, mas pede calma. "O trabalho de Pezza e Simmonds é diagnóstico --[trata do] tempo presente, e eles projetam para o futuro. Ou seja, ainda há muita incerteza sobre o assunto."