Para especialistas, EUA podem ter novo Katrina.
O furacão Ophelia já ameaça a costa americana |
Eles temem que, apesar de todas as críticas sofridas nas últimas semanas, as autoridades do país não estejam preparadas para enfrentar o problema, se ele voltar a ocorrer.
“Eu tenho um certo temor de que os Estados Unidos não estejam preparados para um acontecimento desses tão cedo” afirma o biólogo e consultor ambiental Anthony Anderson.
Para ele, nenhuma cidade americana da região considerada vulnerável a furacões está em condições de suportar um furacão com a potência de Katrina.
“Em termos de estruturas, toda a costa americana que pode ser atingida por furacões poderia sofrer destruição e danos consideráveis”, diz Anderson. “Isso praticamente não tem jeito.”
A situação é especialmente preocupante na devastada costa do Golfo do México, onde, segundo os especialistas, uma mera tempestade tropical seria destruidora, especialmente em Nova Orleans, onde o sistema de diques segue debilitado.
Temporada
A temporada dos furacões ainda não terminou – os especialistas dizem que eles podem se formar até o mês de novembro.
O meteorologista Lexion Avila, do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, lembra, por exemplo, que o furacão Mitch, que arrasou a América Central em 1998, ocorreu em outubro.
Setembro é considerado o mês pico da temporada de furacões. Três se formaram só na semana passada – o Maria, o Nate e o Ophelia.
Os dois primeiros permaneceram no mar, e só o Ophelia, que já virou uma tempestade tropical, chegou a ameaçar a terra, embora com força muito menor que a do Katrina.
Meteorologistas do Centro Nacional de Furacões alertaram em agosto que esta temporada seria “extremamente ativa”.
Foram previstos de 9 a 11 furacões, e 7 já se formaram, embora a maioria não tenha atingido a terra ou tenha perdido força ao longo dos dias.
Sem surpresa
Avila, que esteve envolvido nas previsões do Katrina desde o início, rejeita sugestões de que o litoral do Golfo do México tenha sido atingido de surpresa pelo furacão.
Segundo ele, a margem de erro na previsão da trajetória do Katrina foi pequena, se comparada com a média.
No ano passado, a Flórida - Estado americano campeão em furacões - foi alvo de quatro, em uma temporada também considerada excepcionalmente ativa.
Se esse aumento é casual ou provocado pela ação humana é uma questão que divide cientistas.
Avila acredita que o Katrina é um desses desastres que acontecem de tempos em tempos, sem oferecer muitas chances de defesa ao homem.
Ele argumenta que furacões arrasadores já ocorriam 50 anos atrás, quando a expressão aquecimento global nem existia.
Mas, mesmo dentro do Centro Nacional de Furacões, há quem discorde.
O meteorologista responsável pela previsão para toda a temporada de furacões, Eric Blake, diz acreditar que o aumento nas temperaturas do planeta tenha uma influência pelo menos “secundária” na freqüência dos ciclones.
Para Anthony Anderson, há sinais claros de que o aquecimento da Terra está aumentando a freqüência e a intensidade dos furacões.
“Está documentado que a temperatura no Golfo do México está aumentando e isso leva a condições mais favoráveis para a ocorrência de furacões.”