A silenciosa revolta dos bichos.
Superpneumonia, mal da vaca louca e a gripe das aves preocupam produtores e consumidores. Os primeiros, às voltas com formas de evitar perda de animais e contaminação da carne. Os consumidores, em busca de segurança. Em comum, as três doenças compartilham o fato de serem causadas por agentes infecciosos que venceram a barreira das espécies e passaram a atacar o homem.
Segundo os especialistas, o risco de doenças contraídas pelo contato — caso da superpneumonia e da gripe — ou o consumo da carne de animais doentes — o exemplo da vaca louca — tem na globalização do mercado de alimentos seu principal aliado.
— O fenômeno traz uma mudança drástica na relação do homem com sua alimentação. Essas doenças se tornaram potencialmente graves devido à globalização, que pode transformá-las em epidemias mundiais. Carne com mal da vaca louca pode sair da Europa direto para restaurantes japoneses. Frangos asiáticos com gripe podem chegar ao Brasil, por exemplo — explica Cícero Pitombo, presidente da Associação Brasileira de Buiatria (ABB), que congrega pesquisadores de bovinos, ovinos e caprinos.
Ele diz que, apesar das particularidades de cada uma dessas novas doenças, elas compartilham a gravidade.
— O mal da vaca louca é uma doença degenerativa do cérebro. No Brasil, precisamos evitar que o gado tenha alimentação com ração de origem animal, pois essa é uma das grandes causas do problema — explica.
Já a gripe do frango e a superpneumonia, segundo a pesquisadora da ABB Marcia Cunha Abreu, são extremamente agressivas e com altos índices de mortalidade, principalmente em idosos e crianças:
— São doenças que se espalham rapidamente e precisam de medidas sanitárias e de saúde muito eficientes. No caso da gripe do frango, o grande problema é a capacidade de mutação do vírus, o que pode torná-lo extremamente perigoso para o homem.
Mas o perigo não vem só das doenças transmitidas por mamíferos e aves. Quando o cardápio é carne, a ameaça pode vir do mar. Do salmão, por exemplo. Considerado benéfico para o coração por ser rico em ômega 3, ele pode, quando criado em cativeiro, provocar câncer. É o que diz um estudo da Universidade de Indiana, nos EUA. O problema estaria na alimentação e na forma de vida do peixe em cativeiro, que o faria produzir 14 toxinas cancerígenas em quantidades mais altas que o salmão selvagem.
— O consumo do salmão de cativeiro aumenta consideravelmente as chances de uma pessoa desenvolver diferentes formas de câncer — acredita Ronald Hites, da Universidade de Indiana.
Publicação O Globo - 09/06/04