Aids avança mais rápido que combate à doença.

NAÇÕES UNIDAS - Nunca houve tanto dinheiro no mundo, US$ 8 bilhões, para combater a Aids, mas a pandemia está avançando mais rapidamente que as formas de controlá-la, especialmente entre mulheres e meninas. É o que alerta o relatório preparado para um fórum da ONU nesta quinta-feira.

"A Aids desencadeia uma série de eventos que ameaçam desestruturar sociedades inteiras" escreveu o secretário-geral da ONU, Kofi Annan no relatório. "Enfim, a Aids é um problema excepcional, que exige uma resposta excepcional."

Mais de 120 delegados, principalmente ministros e assessores, devem se pronunciar durante a reunião de um dia. O objetivo é avaliar os progressos desde a sessão especial da Assembléia Geral sobre a Aids, em 2001.

O relatório cita o Brasil como tendo o programa de combate Aids mais bem-sucedido entre os países em desenvolvimento. Camboja e Tailândia tiveram progressos substanciais, enquanto vários países africanos e as Bahamas conseguiram reduzir o ritmo das novas infecções, de acordo com o texto entregue por Annan aos delegados.

Mas só 12% das pessoas que precisam de tratamento o recebem. Programas efetivos de prevenção, exames e acompanhamento psicológico são exceção e os medicamentos ainda custam muito, de acordo com o estudo.

E, apesar das iniciativas e do dinheiro, a epidemia não regride. Segundo Annan, os 4,9 milhões de casos e as 3,1 milhões de mortes por Aids em 2004 são o maior nível da história.

Algumas das piores previsões se confirmaram. Quase metade dos cerca de 39,4 milhões de soropositivos é formada por mulheres e meninas.

- A tendência é que mais mulheres jovens sejam infectadas do que homens jovens - , disse Thoraya Obeid, diretora do Fundo Populacional da ONU, em entrevista coletiva na quarta-feira.

- Se elas são casadas, não podem se abster de relações sexuais. Elas são fiéis, mas os maridos não são - afirmou ela, defendendo mais informações para as mulheres, inclusive sobre o uso da camisinha feminina.

Homens e mulheres de 15 a 24 anos são as maiores vítimas da pandemia. Obeid apresentou uma pesquisa realizada junto a jovens de 12 países, e a maioria disse que não tinha voz sobre os programas contra a Aids em seus países.

O maior doador mundial para os programas de combate à Aids é os Estados Unidos, que gastaram US$ 2,4 bilhões no ano passado. Mas grupos religiosos conservadores pressionam o governo a só incentivar programas que preguem a abstinência sexual, sem abordar grupos vulneráveis, como prostitutas, homossexuais e usuários de drogas.

A contribuição americana inclui cerca de US$ 540 milhões para o Fundo Global para o Combate à Aids, Tuberculose e Malária. Isso representa um terço do orçamento do fundo, que é uma poderosa organização independente formada há quatro anos por governos, empresas e ONGs, por iniciativa de Annan.

O novo diretor de políticas e estratégias do grupo é Randall Tobias, que comanda o programa contra Aids do governo Bush. Alguns funcionários temem que o fundo passe a adotar as posições americanas, mas outros dizem que isso não ocorrerá.

Em todo o mundo, segundo o relatório, cerca de US$ 8 bilhões estarão disponíveis em 2005 para implementar programas em 135 países de baixo ou médio desenvolvimento econômico. Isso representa um importante aumento de 23% sobre o ano anterior. Desse total, os países ricos contribuíram com US$ 6,7 bilhões, seis vezes mais do que o mundo gastou em 2001.