Ribeirão faz cirurgia inédita com células-tronco em São Paulo.

Três pessoas foram submetidas ontem no Hospital Especializado de Ribeirão Preto (privado) a cirurgias para a regeneração de nervos periféricos de mãos e pulsos, com aplicações de células-tronco, nas primeiras intervenções do gênero no Estado de São Paulo.

É a terceira que um procedimento cirúrgico desse tipo é feito no país: a primeira foi em Porto Alegre e, a segunda, no Recife, no último dia 21. Os pacientes escolhidos tiveram lesões graves nos nervos das mãos e dos pulsos nos últimos 12 meses.

O motorista Edinei Viruel Sarbo, 30, a professora Maria Aparecida de Oliveira Penteado Benini, 45, e a estudante Tatiana Cristina Martins, 16, foram submetidos a um processo de punção para a retirada das células-tronco da medula óssea de manhã.

À tarde, passaram por cirurgias nas áreas lesionadas, em que os médicos aplicaram, por meio de um tubo de silicone, um concentrado de células-tronco. No local, as células devem se multiplicar reconstituindo, assim, os tecidos do nervo.

Em um período de 45 dias, espera-se que o paciente possa recuperar até 90% dos movimentos da área lesionada, fato que, em cirurgias comuns, levaria até seis meses e só proporcionaria uma recuperação de 40%.

Tatiana cortou 12 tendões do pulso direito após quebrar o vidro da janela da cozinha com um tapa. "Foi desesperador. Meu pai nem conseguiu dirigir o carro para o hospital ao ver a minha mão pendurada", contou. Ela ainda teve de esperar duas horas para ser atendida em Descalvado, cidade onde mora.

Uma semana após o atendimento de emergência, Tatiana foi submetida a uma cirurgia de ligamento dos nervos, mas ficou com seqüelas e não consegue abrir a mão. Ela fez fisioterapia dez meses e teve de aprender a manusear objetos e a fazer atividades com a mão esquerda. "Tenho esperanças de que vou conseguir recuperar o movimento da mão e fazer tudo normalmente."

A professora do ensino médio Maria Aparecida perdeu parte do movimento da mão esquerda após um acidente de carro em Ibitinga, no dia 2 de janeiro.

Segundo o marido da professora, o técnico em química Antenor de Melo Benini Júnior, 41, a mão da mulher foi esmagada e, há quatro meses, ela está afastada do serviço. "Ela não consegue mexer os dedos e apenas faz um movimento para cima", disse.

O processo cirúrgico é realizado por três equipes, com hematologistas (que colhem as células), biólogo (para separação celular) e cirúrgica (ortopedistas). Na primeira fase, as células são retiradas dos pacientes por meio da punção e, em seguida, o sangue passa por um processo laboratorial em que as células-tronco são separadas dos demais compostos do sangue.

O médico Rui Ferreira, 59, veio do Recife para auxiliar nas cirurgias em Ribeirão. "As células-tronco podem se transformar em qualquer tecido em que forem implantadas", explica.

Já o médico Rui Ferraz, 47, que também é do Recife, disse que casos de lesões de até dois anos já não podem mais passar pela cirurgia. "A cirurgia não resolveria o problema porque o órgão-alvo, o músculo ou a pele não responderiam aos estímulos do nervo", afirmou o ortopedista Salomão Chade Assan Zatiti, 40.

Ferraz afirmou ainda que cada uma das cirurgias de ontem teria um custo de aproximadamente R$ 7.000. No momento, estão sendo realizadas somente com fins de pesquisa.