Mundo está muito próximo de catástrofe ambiental.
LONDRES. A Terra se encontra às portas de um grande desastre ambiental e as pessoas não deveriam ter como certo que seus filhos e netos vão sobreviver no mundo degradado do século XXI. Não se trata de uma ameaça de ativistas verdes, mas da opinião de 1.300 cientistas de 95 países que apresentaram ontem um detalhado estudo sobre o estado do mundo.O relatório não é animador. Os especialistas descobriram que dois terços dos ecossistemas estudados sofreram terrivelmente ao longo dos últimos 50 anos. As regiões secas, que representam 41% da superfície terrestre do planeta, foram particularmente afetadas e, ainda assim, são as áreas onde a população humana cresceu mais rapidamente ao longo dos anos 90.
O documento identifica meia dúzia de lugares onde podem ocorrer mudanças abruptas sem esperança de recuperação no tempo de vida de uma pessoa. Onde a degradação for lenta e inexorável, pode não haver um colapso ambiental total, mas as pessoas mais pobres do mundo serão as que mais vão sofrer, segundo a Avaliação do Milênio dos Ecossistemas. Walt Reid, coordenador do relatório, afirmou que se a comunidade internacional não tomar medidas decisivas, o futuro é incerto para a próxima geração.
— O ponto principal do documento é que estamos gastando todo o capital natural da Terra, exercendo tamanha pressão sobre suas funções naturais que a capacidade dos ecossistemas do planeta de sustentarem as futuras gerações não pode mais ser tida como certa — afirmou Reid. — Podemos reverter a degradação, mas as mudanças necessárias são substanciais e ainda não estão sendo adotadas.
Os cientistas concluíram que o planeta foi substancialmente alterado por causa da pressão exercida sobre os recursos naturais em razão das crescentes demandas de uma população cada vez maior.
Degradação não tem precedentes na História
“Ao longo dos últimos 50 anos, os homens alteraram os ecossistemas mais rapidamente e numa extensão muito maior do que em qualquer outro momento da História de forma a atender às crescentes demandas por comida, água e madeira”, sustenta o documento. O custo total disso somente agora está se tornando aparente. Dos 24 ecossistemas considerados vitais, 15 foram seriamente degradados ou usados de forma insustentável.
Aproximadamente um terço da superfície do planeta encontra-se ocupada por cultivos, sendo que o número de áreas convertidas em plantações desde 1945 é maior do que a soma das regiões que passaram a ser cultivadas nos séculos XVIII e XIX. O volume de água desviada de lagos e rios para a indústria e a agricultura dobrou desde 1960 e, hoje, a quantidade de água armazenada em reservatórios é de três a seis vezes maior do que a que flui naturalmente.
A quantidade de nitrogênio e fósforo lançada no meio ambiente em razão do uso de fertilizantes dobrou no mesmo período. Esse volume sem precedentes de nutrientes vem provocando o crescimento excessivo de algas, o que pode destruir ecossistemas inteiros.
O aumento da atividade humana afetou a diversidade de animais e plantas. No século passado, foram documentadas cerca de 100 extinções, mas os cientistas acreditam que a verdadeira taxa de desaparecimento de plantas e animais é mil vezes maior, com perdas significativas de biodiversidade e diversidade genética.