ONU: um bilhão sem água no mundo.

LONDRES. Um estudo das Nações Unidas apresentado ontem alertou que o mundo deve se preparar para mais secas e inundações catastróficas à medida que o aquecimento global alterar os padrões de chuva. Ao mesmo tempo, advertiu a ONU, mais de um bilhão de pessoas em países em desenvolvimento já sofrem uma dramática escassez de água limpa para beber e tomar banho. Essa situação ficará ainda pior, devido às mudanças climáticas.

ONU lança campanha para os próximos dez anos

O alerta marcou o Dia Mundial da Água e o lançamento de uma campanha de dez anos para combater a falta de água limpa. Chamado “Água para uma década”, o estudo destaca que 1,1 bilhão de pessoas passam fome e adoecem porque não dispõem de água limpa e 2,4 bilhões não têm acesso a saneamento básico. Três milhões de pessoas morrem a cada ano do mundo de doenças relacionadas à falta de acesso à água limpa.

— Muita gente acha natural ter água à disposição para beber e tomar banho. Porém, para mais de um bilhão de seres humanos isso é um luxo. Eles não podem fugir de usar fontes de água suja — disse o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Lee Jong-Wook.

Numa vívida demonstração dos perigos da seca, o rei da Tailândia, Bhumipol Adulyadej, compareceu ontem à cerimônia de lançamento de aviões que ajudam a provocar chuva, pulverizando substâncias químicas em nuvens de tempestade. Nada menos que 71 das 76 províncias tailandesas sofrem com uma das piores secas dos últimos anos. Na China, autoridades disseram que os preço da água subirá cerca de 20% devido ao agravamento da escassez em todo o país. Ano passado, o preço da água já havia subido 25%.

Numa conferência realizada ontem na sede da Unesco, em Paris, o presidente da França, Jacques Chirac, disse que os europeus estão preocupados de que a distribuição desigual dos recursos hídricos na África agrave os conflitos no continente.

— A água é abundante na África, mas desigualmente distribuída. É preciso tratar desse problema com mais seriedade — afirmou Chirac.

A ONU pretende intensificar as campanhas para facilitar o acesso à água potável.

— Precisamos aumentar a eficiência do uso da água, principalmente pela agricultura, a maior consumidora de recursos hídricos no planeta. Precisamos também libertar as mulheres e as meninas que todos os dias percorrem longas distâncias para coletar água para suas famílias — disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Os recursos destinados à ajuda ao combate da falta de água no mundo, porém, têm diminuído. A Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (OECD) disse que a ajuda internacional para os países em desenvolvimento caiu de US$ 2,7 bilhões em 1997 para US$ 1,4 bilhão em 2002.