Trocar de mão para escovar os dentes é um exercício para o cérebro.

O simples gesto de trocar de mão para escovar os dentes, contrariando a rotina e obrigando à estimulação do cérebro, é um exercício de neuróbica, uma nova técnica para melhorar a concentração, treinando a criatividade e inteligência.

Cerca de 20 crianças e adolescentes, dos sete aos 16 anos, vão participar terça-feira, em Lisboa, no primeiro curso de neuróbica destinado a crianças e ao grande público, numa organização do Instituto da Inteligência.

Nesse dia, os participantes vão aprender a concentrar-se, a desenvolver os sentidos da visão, tato e audição, fortalecendo ao mesmo tempo determinadas zonas do cérebro implicadas na memória, criatividade e inteligência.

A neuróbica é a designação criada pelo neurobiólogo Lawrence Katz --pesquisador do Instituto médico norte-americano Howard Hughes-- para um conjunto de exercícios de estimulação cerebral.

O objetivo é conseguir um rejuvenescimento celular de certas áreas do cérebro (como neocórtex e hipocampo).

"Trata-se de uma espécie de ginástica mental, para despertar e desenvolver as capacidades cognitivas, e em que se manipulam os sentidos", disse Nelson Lima, diretor do instituto.

É através dos nossos sentidos que captamos a informação do exterior. "Por isso, a neuróbica utiliza os sentidos como instrumento de trabalho para exercitar determinadas áreas do cérebro que estão habituadas à rotina", explicou.

Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas, que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um "efeito perverso": limitam o cérebro.

Para contrariar essa tendência, há que fazer exercícios, alguns tão simples como escovar os dentes de vez em quando com a mão esquerda, no caso de se ser destro.

"Aí, as pessoas só pensam no que estão fazendo, concentram-se na tarefa", disse, desafiando as pessoas a "fazer tudo aquilo que contraria as rotinas", obrigando o cérebro a um trabalho adicional.

Se nas crianças a técnica tem como vantagem melhorar a concentração, raciocínio lógico e pensamento criativo, nos mais idosos ajuda à longevidade do cérebro.

"As ramificações do cérebro que não são usadas deixam de existir. A neuróbica potencia a criação de novas ligações, obrigando o cérebro a resolver determinados obstáculos a que não estava habituado", disse.

Um bom exercício para o cérebro de uma pessoa idosa é aprender uma língua nova, por exemplo.

Lima salientou a importância de conjugar a preocupação com a saúde do corpo com a preocupação com a saúde do intelecto: "viver mais, sim, mas viver melhor, com mais qualidade".